A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua Anódica no cerebelo reduz sintomas motores e cognitivos na Ataxia de Friedreich: um estudo randomizado e controlado
A Ataxia de Friedreich é a forma mais comum de ataxia recessiva, que geralmente apresenta os primeiros sintomas na infância ou até os 25 anos. Até recentemente, apenas um medicamento terapêutico havia sido aprovado exclusivamente nos Estados Unidos. No entanto, uma nova pesquisa promissora sugere que a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua Anódica (ctDCS) no cerebelo pode oferecer uma abordagem inovadora para reduzir os sintomas motores e cognitivos dessa condição neurológica.
O que é a Ataxia de Friedreich?
A Ataxia de Friedreich é uma doença genética rara que afeta o sistema nervoso, resultando em desafios como falta de coordenação motora, fraqueza muscular e problemas na fala. Essa condição está associada à redução na produção de uma importante proteína chamada frataxina.
Até o momento, não há cura para a Ataxia de Friedreich, e as opções de tratamento são limitadas, deixando os pacientes com poucas alternativas para melhorar sua qualidade de vida. Os sintomas característicos da condição incluem:
- Dificuldade em caminhar e manter uma postura ereta, especialmente devido à falta de coordenação motora nas pernas;
- Reflexos mais lentos;
- Dificuldade na fala;
- Perda de sensibilidade nos membros.
Um estudo revolucionário
Pesquisadores conduziram um estudo pioneiro, utilizando a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua Anódica (ctDCS) no cerebelo, com o objetivo de avaliar seus efeitos nos sintomas da Ataxia de Friedreich e na atividade do córtex somatossensorial secundário (SII). O estudo foi realizado com 24 pacientes com Ataxia de Friedreich em um ensaio clínico randomizado e controlado por placebo.
Resultados promissores
Os resultados foram notáveis. Após uma semana de tratamento com estimulação transcraniana por corrente contínua anódica no cerebelo, os pacientes apresentaram uma melhora significativa na Escala de Avaliação e Classificação da Ataxia (-6,5%) e na Escala de Síndrome Cognitiva Afetiva Cerebelar (+11%) em comparação com o grupo de placebo. Além disso, a atividade de ressonância magnética funcional no córtex SII contralateral à estimulação tátil foi reduzida (-26%) em comparação com o grupo de placebo.
Um novo caminho de esperança
Esses resultados sugerem que a estimulação transcraniana por corrente contínua anódica no cerebelo pode ser uma terapia eficaz e segura para a Ataxia de Friedreich. Acredita-se que esse tratamento atue restaurando a inibição neocortical que normalmente é exercida pelas estruturas cerebelares.
Essa descoberta representa uma evidência de Classe I de que a ctDCS é uma abordagem eficaz para a Ataxia de Friedreich, oferecendo esperança para os pacientes que enfrentam essa condição debilitante.
Conclusão
À medida que a pesquisa médica avança, novas terapias como a estimulação transcraniana por corrente contínua anódica no cerebelo podem abrir portas para tratamentos mais eficazes e melhorias na qualidade de vida dos pacientes com Ataxia de Friedreich. Este estudo é um exemplo de como a ciência está constantemente evoluindo para oferecer soluções inovadoras para condições médicas complexas.
Grupos de pesquisadores em todo o mundo trabalham juntos em estudos para ampliar a compreensão de como a doença afeta o organismo – e, neste ponto, os resultados do novo trabalho têm muito a colaborar.
O que é ataxia?
A ataxia é uma condição neurológica que afeta o cerebelo, conhecido também como “cérebro pequeno”. Apesar de seu tamanho reduzido, o cerebelo desempenha um papel fundamental no controle das funções humanas básicas, como equilíbrio, coordenação, fala e movimento dos olhos.
Os sintomas da ataxia podem se manifestar em qualquer idade e têm causas possíveis. Pode surgir devido a lesões na cabeça, infecções virais, abuso de drogas ou álcool, falta de vitamina B12 e como resultado de genes herdados dos pais.
Existem vários tipos de ataxia, mas o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, a classifica em três categorias gerais:
Ataxia adquirida: os sintomas se desenvolvem como resultado de traumas, acidentes vasculares cerebrais (AVCs), esclerose múltipla, tumores cerebrais ou outros problemas que causam danos ao cérebro ou ao sistema nervoso.
Ataxia cerebelar idiopática tardia: o cérebro sofre danos progressivos de razões desconhecidas ao longo do tempo.
Ataxia hereditária: os sinais se desenvolvem lentamente ao longo do tempo e são gerados por defeitos genéticos. O tipo mais comum nessa categoria é a Ataxia de Friedreich. Entre o início e o final da adolescência, o equilíbrio e a coordenação começam a deteriorar-se, e os pacientes podem experimentar também movimentos involuntários e tremores.
O diagnóstico é realizado com base em avaliação médica e com detalhada análise dos sintomas, história familiar e do exame físico neurológico. Os testes complementares, como exames de imagem, como ressonância magnética, por exemplo, podem auxiliar. Para o diagnóstico das ataxias hereditárias, deve-se realizar o teste genético, feito por exame de sangue ou saliva.
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